Quando a noite cai: Medos Ácidos - Sessão 32 [Vampiro a máscara 5ª edição]


Quando a noite cai: Medos Ácidos - Sessão 32

(12/11/2023 domingo)

E mais uma vez a noite caiu.

À medida que o sol se despedia no horizonte, o cair da noite desencadeou uma transformação sutil. As fachadas diurnas desmoronaram, e o crepúsculo tendia a revelar a verdadeira essência das almas. Sob o manto noturno, medos adormecidos despertaram, lançando sombras que dançavam nas ruas iluminadas pelo amarelado das lâmpadas de mercúrio. A noite, com seu sorriso enigmático, acolhia os boêmios e o turno noturno, libertando-os para explorar as nuances ocultas de uma vida diferente. Nesse teatro sombrio, as personas diurnas desvanecem, dando espaço a impulsos autênticos e paixões secretas. A noite, cúmplice dos inconfessáveis, abraçava com carinho os segredos revelados, enquanto a Lua observava discreta, além de algumas nuvens, silenciosa, a metamorfose de uma cidade que adormecia em uma cidade que despertava na escuridão.

Os monstros despertaram.

Catarina foi fazer a ronda na Bloodlust. Olhou as salas, conversou com alguns funcionários. Ela continuava intrigada e com a ideia fixa de que algo sobrenatural era a resposta para os problemas da boate.

Pareto pediu para conversar com Catarina e os outros membros da coterie.

Reunidos à linda mesa de mármore, onde os adereços e flores pareciam fora de ordem aos olhos de Eli Urt, a conversa girou em torno dos problemas da Bloodlust e que dois dos funcionários haviam pedido demissão. 

O problema da demissão é que as pessoas sabiam sobre as peculiaridades da boate e dos moradores sombrios. Pareto pediu para que ao menos Alice, uma das pessoas problemáticas, ao menos fosse poupada de tratos mais severos. Inquerido sobre a razão, Pareto disse que ela era filha dele, mas ela não sabia.

Várias possibilidades foram levantadas sobre o que fazer com Lívia e Mateus, entre algumas regadas a sangue e outras de trato mais humano. O próprio Pareto explanou que se a eliminação sumária de todos os descontentes ocorresse com frequência, não havia como repor o colaborador com alguém tão externo, sem o mínimo de noção dos habitantes do subsolo.

Catarina não estava satisfeita em ter que tratar desses assuntos. O seu descontentamento com essa gerência era explícita. Cavalcante desejava uma resolução mais direta, contudo o argumento que venceu a discussão foi de Eli Urt, que buscou um equilíbrio e um contraponto moral à situação. As almas descontentes receberiam uma semana de folga para acalmarem suas mentes e, talvez, recebessem uma visita.

Pareto havia ficado satisfeito com a resolução de seus senhores. Ele agradeceu e se retirou do recinto.

Outro assunto foi levantado por Luiz Pareto à coterie. Ele mostrou as fotos que havia recebido de Tripa Seca, com as imagens dos "vampiros" durante o final de tarde. E alinhou as imagens com seus contatos na polícia civil, onde alguns daqueles rostos haviam estado perto de 4 lugares que foram arrombados e roubados. Uma casa de produtos religiosos, uma empresa de produtos de limpeza, uma loja de produtos químicos e uma distribuidora de flores raras. Talvez aquilo ajudasse à Vehme em sua busca por aqueles desconhecidos.

Outras coisas precisavam ser resolvidas ainda naquela noite e a coterie se dividiu.


Catarina e Eli Urt foram a procura de Margot, a líder da Casa Carna, para tentarem convencerem-na a dar cabo dos "espíritos, fantasmas e entidades" que assombravam a Bloodlust.


Urt procurou em seus alfarrábios e almanaques antigos sobre os signos, horóscopos, mapas astrais e sangue de místicos mitológicos para saber onde Margot estaria naquela noite. Os caminhos da líder dos "neo-pagãos" Tremere eram feitos através das místicas que muitos dos herméticos clássicos consideravam perda de tempo e pura superstição, mas mesmo eles não poderiam dispensar o carisma e imponência que Margot trazia, principalmente em noites assombradas após a queda das antigas estruturas de poder e, principalmente em Brasília, após a queda de Beliza, a Venerada.

Com a informação em mãos, partiram. 

Ao se aproximarem dos ermos onde o ritual da Lua Cheia de Escorpião seria executado, a mente de Urt já buscava a lógica que iria utilizar para convencer à poderosa feiticeira. As instruções passadas a Catarina se condensavam a poucas palavras, gestos pequenos e humildade, quase o oposto extremo da Toreador. Ela deveria se conter e isso era estranho, mas a política e os sorrisos bem colocados também eram características de seu Clã.

A chácara possuía um cheiro forte de sândalo e outro odor mais ferroso, que era cativante, o sangue. Eli conseguia discernir o humor fleumático de sua ressonância.

Os sete homens na porta da chácara usavam trajes leves e de cores mais impactantes do que Catarina estava acostumada para sua própria comunidade. Máscaras com formas animalescas cobriam os rostos dos possíveis seguranças.

Eli Urt impôs sua voz e se apresentou, exigindo falar de imediato com a Sagrada Margot. O nome de Urt abriu as portas até o primeiro ponto de espera. O cheiro da madeira perfumada, do sangue ritualístico, das fragrâncias dos seguidores, o ritmo da música e as vocalizações entoadas como mantras para deuses antigos faziam as mentes de Catarina e Urt se perderem em um mundo que não pertencia a nenhum deles. A excentricidade de todo o lugar era estranha à imagem que a bela Toreadora tinha do Clã dos Magos, era uma visão diferente e muito mais "Nova Era" do que os rituais precisos e quase cirúrgicos urdidos por Eli.

Catarina então observou quando seu aliado começou a se movimentar, andando de forma ritmada através do caminho de pedras. Ela não entendia o conceito, mas poderia jurar que Urt estava hipnotizado ou possuído por algo, pela música, pelo ambiente. Ela apenas o seguiu.

Ambos chegaram à pequena fogueira onde uma ciranda dançava em êxtase. Assim como os homens do lado de fora, as pessoas ao redor do fogo, as que tocavam instrumentos, as que cantavam e dançavam, as que serviam, todos, utilizavam as máscaras com feições animais. Em posição de destaque estava a mulher bruxa com a roupa cor de sangue, lenços de seda de amarelo extremo e a máscara como uma Lua com chifres.

A música começou a ser tocada cada vez mais veloz, cada vez mais rápida, num crescendo místico. Urt se movimentava no ritmo, até que tudo sessou e a última coisa que se ouviu foi um grito de poder vindo de Margot. Após o grito, Urt perdeu o equilíbrio por um instante, voltando a si logo em seguida.

A bruxa olhou ao redor e viu os novos rostos no ritual. Pediu a uma das asseclas para continuar com a adoração e foi ter com os dois membros da Sentinela Escarlate.

Levando ambos para um lugar mais afastado, sentaram-se sobre uma colorida e perfumada canga, onde ouviu pacientemente os pedidos de desculpa, as vênias educadas, as apresentações corteses.

Ouviu e ponderou sobre o problema que o Refúgio e arredores sofriam com a aparição de seres além da compreensão. Franziu o cenho quando escutou sobre as perturbações psicológicas e até mesmo financeiras sofridas pelo negócio de fachada, que precisava manter-se íntegro.

Escutou tudo com atenção e presteza, até que questionou a Urt se o Jason Wylde, Primogênito do Clã Tremere e Líder da Casa Tremere, sabia que ele estava ali, com ela, num ritual Carna. Eli assumiu que estava por contra própria, sem que seu superior soubesse. A enigmática mulher então virou-se para Catarina e apenas com ela tratou então, deixando Urt como ouvinte. Margot aceitou ajudar a coterie Sentinela Escarlate. Aceitou ajudar Catarina. Pediu para que as cinzas da fogueira fossem espalhadas em cada portal, umbral e passagem dentro do lugar a ser protegido, e com um sorriso pediu para Urt escoltar a jovem e imperiosa Toreadora.

Era uma vitória, mas certamente o preço seria alto.

Torrado Martins e José Cavalcante foram atrás de Alice Pink, a Nosferatu, para tentarem agilizar a resposta com Cipriano, o anarquista.

Chegaram ao antigo Refúgio de Lodo, onde os jacarés Ed e Ted produziam sons guturais e assustadores. O olhar de José Cavalcante trazia um certo medo daquelas coisas. Torrado pôs-se a explicar que eles não se aproximariam e que aqueles sons eram eles chamando Alice.

Alice Pink, com sua carne esfacelada, marcas degradantes e o fedor característico de sua pessoa surgiu, como se sempre estivesse ali.

Olhou firme para Martins e sorriu amargamente para Cavalcante, chamando-o sonoramente pelo nome completo, citando seu Clã e acrescentando o título de líder da Vehme Sentinela Escarlate.

Torrado logo pediu para ela interceder junto aos anarquistas, junto a Cipriano, para que ele trouxesse logo as palavras de permissão para entrarem no domínio deles, para continuarem a caçada.

Alice observou bem ambos os vampiros à sua frente, mediu-os com um olhar, tomou notas mentais sobre cada uma das possibilidades e pedidos e então falou na língua dos enormes répteis que se afastaram, abrindo caminho em direção ao escuro. A Nosferatu solicitou que seu "irmão de sangue" adentrasse na escuridão e apenas pressionasse o botão do dispositivo de música que havia não muito longe.

Vinícius Torrado Martins caminhou, passou por Ed e Ted e encontrou o IPOD. Ligou o som e colocou a música. A melodia tomou conta do Refúgio e preencheu cada curva. Iniciada com uma bateria e seguida quase de imediato por notas fortes de um saxofone, a música era conhecida. Não demorou para que George Michael começasse a cantar elegantemente Careless Whisper.

Quando Torrado voltou para onde estavam Alice Pink e José Cavalcante, ficou atônito. Ali então ele viu um dos preços que Pink cobraria para ajudá-los. À sua frente ambos formavam um casal em um dança.

Cavalcante mantinha a compostura, sabia de suas necessidades e compreendia que aquela dança, acima de tudo era política.

Uma provação, uma necessidade, uma obrigação.

Cinco minutos que poderiam ser cinco noites foi a duração de todo aquele momento.

Com o fim da canção e as últimas notas reverberando nas profundezas do Refúgio, deu-se o fim daquela dança. Para coroar o momento, Cavalcante pretendia beijar o rosto horrendo da monstruosa Nosferatu e, assim que os lábios do Ventrue  tocaram a pele, ela educadamente o afastou. Alice Pink agradeceu pela dança e vestiu seu rosto e feições costumeiras, disse que faria de tudo pela Sentinela Escarlate.

Alice cumpriria sua parte no acordo.

José e Vinícius então saíram pelos corredores tortuosos que levavam ao Refúgio Nosferatu. Contudo Cavalcante viu-se sozinho na escuridão.

Alice havia pegado Torrado para conversar longe do Ventrue. Ela, com seu tom usual de voz, disse o quanto amava o "irmão" Nosferatu, mas que o que ele havia feito, de revelar aquele lugar sagrado ao Clã para um forasteiro, era um crime, mas que ela não espalharia aquela ação aos outros do Sangue.

Torrado percebeu que sua vida estava no fio da navalha e que suas dívidas com Pink apenas cresciam, mas pelas palavras de Alice, tudo correria bem.


Na noite seguinte, logo após o despertar, Catarina chamou o fiel Pareto para ungirem os umbrais da Bloodlust com as cinzas enviadas por Margot.

Já Eli Urt recebeu de seu carniçal, Horácio Satoro Hamada a informação que precisava falar com ele e na conversa com o cientista, soube que a Ventrue Vicenta D'Augustin, havia dito em comunidades de tráfico de sangue, que Urt não era confiável.

Mesmo incomodado com a situação Eli resolveu fornecer uma remessa de sangue especial para Vicenta, um sangue único, que ela jamais deve ter provado, o sangue da criatura que pereceu nas profundezas dos negócios de Otávio "o Pêssego". Se isso seria o suficiente para reabrir as portas, ele não sabia, mas precisava tentar, de qualquer forma.

Enquanto isso, José Teixeira Cavalcante recebeu uma ligação de Indra Vânia, a repórter. Ela falou sobre uma reportagem que provavelmente Cavalcante gostaria de censurar. Nas imagens enviadas pela repórter, Cavalcante viu pessoas dependuradas de ponta cabeça, com o sangue esvaindo e nas paredes, os mesmos símbolos que viram nas ruas enquanto procuravam o grupo que andava nos domínios de Martins.


Personagens

Jogadores:
Renato - José Teixeira Cavalcante [Ventrue]
Neimar - Eli Urt [Tremere]
Osny - Catarina Oliveira [Toreador]
Marquinhos – Vinícius “Torrado” Martins [Nosferatu]
Cris – Pastor Israel [Lasombra] 

NPCs:
Margot - Tremere - Casa Carna;
Isabel Vilasques Lacerda - Toreador;
Alice Pink - Nosferatu;
Cipriano - Nosferatu;
Vicenta D'Augustin - Ventrue;
Lívia - bartender da Bloodlust;
Mateus - segurança da Bloodlust;
Otávio "o Péssego" - traficante de gente;
Dr. Horácio Satoro Hamada - professor de hematopatias raras na UnB;
Indra Vânia - reporter;
Indiana - homúnculo;
Luiz Pareto - carniçal.

Sistema:
Vampiro: a máscara 5ª edição

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